Roman Polanski

POLANSKI, CENSURA AO CINEMA


Parte do público deixou o auditório da cerimônia do César Awards 2020, conhecido como Oscar do cinema francês, na sexta 28.2, após o cineasta Roman Polanski vencer o prêmio de Melhor Diretor.
Ainda em cartaz, fora da tela, o estupro de que foi acusado o cineasta, nos anos 70.
O protesto e o repúdio contra a premiação do cineasta, que concorria com o filme J'Accuse - O Oficial e O Espião – longa-metragem sobre o escândalo político Dreyfus, ocorrido entre 1894 e 1906 – teve a participação de Adèle Heanel, atriz do filme Retrato de Uma Jovem em Chamas, indicada à categoria de Melhor Atriz, uma das que se retirou, insatisfeita com a premiação do diretor.
Polanski, um dos grandes mestres e gênios da arte do cinema, de 86 anos, que já nos deu obras primas como Repulsa ao Sexo, A Dança dos Vampiros, O Bebê de Rosemary, Tess, Chinatown, Lua de Fel, O Pianista, O Escritor Fantasma, A Pele de Vênus, concorria no César à doze indicações com seu novo filme.
Vários manifestantes criticaram a academia francesa com cartazes com slogans do seguinte nível, “Cinema culpado, público cúmplice”.
Um tipo de protesto e militância, nessa hora e lugar, que consegue reverberação midiática, não há dúvida. Mas sua consistência é questionável, para além da discussão sobre feminismo e machismo. Tornam-se manifestações incontroláveis, por vezes, oportunistas, de intolerância e ódio, num segmento de gênero, que não é maioria, mas faz estragos consideráveis. Além de Polanski, Woody Allen também é outro exemplo, no cinema, de campanhas sexistas que acendem fogueiras em seu obscurantismo.
Um filme e seu diretor devem ser respeitados, cinema é arte, é criação, é linguagem, é reflexão, é liberdade. Seu julgamento é estético, esse é o lugar da crítica. As ações contra Polanski não podem estar na sua interdição e sua proibição como cineasta e artista, e a de seus filmes. Isso se chama censura. Essa perseguição a Polanski é velha, rançosa, irracional e, muitas vezes, hipócrita. O campo dessa luta é nos tribunais da justiça e da lei. Fora disso, linchamento moral é fascismo.
Polanski, judeu franco-polonês, viveu o flagelo do nazismo e da tragédia na vida pessoal. Com seus filmes, abriu nossos olhos para enxergar melhor o mundo nos seus preconceitos, na sua brutalidade, nos seus conflitos. Neles, tratou dos dramas do amor, da obsessão, da violência, do martírio e da intolerância. Sua obra é farol que ilumina percurso, destino e esperança da humanidade. Parabéns, Polanski!

Comentários

Postagens mais visitadas