Jean-Claude Carrière

ROTEIROS DE CARRIÈRE

O cinema perdeu em 8 de fevereiro, aos 89 anos, um dos seus mais relevantes autores. Jean-Claude Carrière foi um criador de histórias filmadas por grandes diretores de nossa arte cinematográfica. Clássicos nasceram da inspiração de Carrière e compõem na antologia do melhor cinema, no painel dos seus últimos 60 anos, como "Hiroshima Mon Amour" (Alain Resnais), "Diário de uma Camareira" (Luis Buñuel), "A Bela da Tarde" (Luis Buñuel), "O Discreto Charme da Burguesia" (Luis Buñuel), "Obscuro Objeto do Desejo" (Luis Buñuel), "O Fantasma da Liberdade" (Luis Buñuel), "A Via Láctea" (Luis Buñuel), "O Tambor" (Volker Schlöndorff), "Danton" (Andrzej Wajda), "Valmont" (Milos Forman), "Cyrano de Bergerac" (Jean-Paul Rappeneau), "Salve-se Quem Puder" (Jean-Luc Godard), "A Insustentável Leveza do Ser" (Philip Kaufman), "Sombras de Goya" (Milos Forman), entre tantas obras consagradas.
Com Louis Malle, em "Viva Maria!", o feito memorável, colocou Brigitte Bardot e Jeanne Moreau cantando, em cena, canções com letras suas.
Considerado um expoente do surrealismo francês, Carrière definiu-se como um narrador, escreveu roteiros de cerca de 60 filmes e escreveu 80 livros, de ensaios, contos, traduções, roteiros, adaptações, entrevistas. 
Colaborou com Hector Babenco no roteiro de "Brincando nos Campos do Senhor", com Michael Haneke em "A Fita Branca", com Fernando Trueba em "O Artista e a Modelo", e com Julian Schnabel, em "No Portal da Eternidade". Esteve presente no melhor cinema, de densidade e diversidade.
Em 2019 escreveu com o ator/diretor Louis Garrel o roteiro de "O Homem Fiel" e em 2020 assinou seu último roteiro, para o filme "O Sal das Lágrimas", de Philippe Garrel.
Trabalhou também como ator, com participações especiais em filmes de diretores amigos, como "Os Possessos", de Andrzej Wajda, e "Cópia Fiel", de Abbas Kiarostami, além da atuação em "O Diário de Uma Camareira".
Importante criador no cinema francês e de todo o mundo, desgarrou-se em seu país do movimento da Nouvelle-Vague, que privilegiou um modelo com seus diretores autores. Buscou parcerias com grandes mestres mundo à fora, para quem criou roteiros fundamentais, de um cinema de brilho, de arte, de público.
Deixou dois livros importantes para os estudiosos do cinema, "A Linguagem Secreta do Cinema" e "Prática do Roteiro Cinematográfico". E os prestigiados "O Mahabharata", a co-autoria com Umberto Eco, "Não contem com o fim do livro", "Índia, um olhar amoroso" e "Contos filosóficos do mundo inteiro".
À sua parceria, de 6 filmes com Buñuel, são atribuídas inovações na escrita dramática para o cinema. Determinaram que seus personagens teriam sub-consciente, e que não deveriam controlá-los, deixando-os livres para incongruências. Citava Pirandello, que quando censurado por incoerências de seus personagens, respondia: "— E eu com isso, sou apenas o autor!"
O espanhol Juan Carlos Rulfo realizou em 2011 o filme "Carrière, 250 metros", documentário que registra viagens de seu personagem desde sua terra natal, Colombière-sur-Orb, até Paris, New York, México e Índia, numa trajetória de lembranças e memórias, de sua vida e sua obra.
Carrière, cinema autoral em palavras e imagens!

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