Cría Cuervos

CARLOS SAURA E "CRÍA CUERVOS"


Sempre é hora de ver ou rever produções clássicas, realizações com assinaturas de mestres. Aproveitar os canais da tv por assinatura especializados em filmes cults e viajar para lugares e tempos narrados com brilhantismo pelo cinema. 
"Cría Cuervos" de Carlos Saura (1976), uma obra que através de alegorias sobre a Espanha franquista, trata da vida, do martírio, da inquietude, do sonho, da liberdade.
Dele também, entre outros, os ótimos "Ana e os Lobos" (1973), "Mamãe faz Cem Anos" (1979), "Bodas de Sangue" (1981), "Carmen" (1983), "Amor Bruxo" (1986), "Flamenco" (1995), "Tango" (1998). 
"Cría Cuervos", um filme de tempos psicológicos, a partir da interpretação de uma menina cercada por um mundo que se apresenta e lhe parece hostil, um filme que desmonta o conceito do paraíso infantil de modo arrasador.
Denso, forte, com muitas curvas, a menina protagonista é extraordinária, a pequena Ana (Ana Torrent), narrada pelas memórias da Ana adulta (Geraldine Chaplin). Seu olhar infantil duro, visão e imaginação (entre olhos abertos e fechados) sobre o mundo de sombras da família. Aliás, o filme é das três meninas, irmãs, filhas de pai militar, com o enredo, a história, passando todo o tempo por elas, com os demais personagens sendo coadjuvantes, no seu entorno, vistos e compreendidos por elas. O universo infantil cruzado com a violência,  pulsão de morte, desejo e obsessão, a infância entre o encantador e o ameaçador.
E a canção "Por qué te vas?", do espanhol José Perales atravessando o filme, num toque envolvente de melodrama e também de comentário à trama. 
Filme merecedor de análise freudiana. Sobre a dor, os fantasmas da infância e o amadurecimento. Saura cruzando sempre de modo perturbador a questão militar franquista com questões da moral, da hipocrisia e da psiquê familiar.
O cinema espanhol de Carlos Saura merece ser revisto na sua qualidade e importância.
"Cría Cuervos", obra prima do cinema!

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