Claudia Cardinale

CARDINALE, ERA UMA VEZ NO CINEMA


"O Sol se reparte em crimes, espaçonaves, guerrilhas, em Cardinales bonitas, eu vou".
("Alegria, Alegria"/ Caetano Veloso).

Claudia Cardinale, uma deusa do cinema, faz 82 anos neste abril. Beleza e talento, presença fundamental no melhor do cinema italiano e mundial.
Nascida na Tunísia, de pais sicilianos, estrelou mais de 50 filmes em sua carreira de atriz. Entre eles, "Os Eternos Desconhecidos" (Mario Monicelli, 1958), "Rocco e Seus Irmãos" (Luchino Visconti, 1960), "O Belo Antônio" (Mauro Bolognini, 1960), "O Leopardo" (Luchino Vusconti, 1963), "A Pantera Cor de Rosa" (Blake Edwards, 1963), "Oito e Meio" (Federico Fellini, 1963), "Vagas Estrelas da Ursa" (Luchino Visconti, 1965), "Os Profissionais" (Richard Brooks, 1966), "Era Uma Vez no Oeste" (Sergio Leone, 1968), "Violência e Paixão" (Luchino Visconti, 1974), "A Pele" (Liliana Cavani, 1981), "Fitzcarraldo" (Werner Herzog, 1981). Mais recentemente, esteve magnífica em "O Artista e a Modelo" (Fernando Trueba, 2012).
Suas personagens carregaram o magnetismo da persona da atriz. Sua figura, no corpo esculpido de mulher, cabelos, rosto, olhos e boca, em seu caminhar, dançar, chorar e sorrir, no seu olhar, no seu desejo e na sua voz, a sensualidade e a elegância da mulher e atriz que impregnou o imaginário de homens e mulheres de algumas gerações.
Um dos seus momentos de máximo esplendor, "Era Uma Vez no Oeste", de Sérgio Leone (1968), ela na maturidade de seus 30 anos, um dos filmes onde sua presença mais impacta, obra que transcende gêneros. Épico, western, romance, paixão, vingança, acerto de contas, sem dúvida na lista dos melhores de todos os tempos.
A ex-prostituta vinda de New Orleans, chega ao velho Oeste, para morar com um fazendeiro irlandês com quem se casara recentemente na cidade. Ao chegar, depara-se com o brutal assassinato do marido e seus filhos por um bando de matadores profissionais a serviço da invasão de terras e do avanço e expansão da linha férrea, a desbravar fronteiras sem limites para a imposição da violência e do terror. 
Herdeira da fazenda, a personagem Jill McBean vai enfrentar e resistir ao poder da nova ordem, num filme que exibe e evoca os momentos finais de um Oeste ainda selvagem e indomado da América. Nessa crônica, de paixão, ódio e melancolia, Cardinale encarna, talvez, a mais importante e densa personagem feminina já criada em todos os tempos para filmes temáticos sobre o velho Oeste. 
A atriz impressiona na sensualidade contida, prestes a explodir, expressa em gestos curtos, tensos, poucas falas, olhares, pausas e silêncios, sob a trilha musical que arrebata, do genial compositor Ennio Morricone. Mulher bela, sozinha, altiva e determinada, no limiar do impasse entre a vida a morte, cercada por homens dispostos a ir até o fim. Em papéis extraordinários, Henry Fonda (Frank, o vilão, pistoleiro representante do poder da nova ferrovia), Charles Bronson (Harmônica, nomeado pela gaita que toca, o vingador) e Jason Robards (Cheyenne, líder de uma gang de bandoleiros), os brutos na disputa de terras, poder, vingança e amor.
Um filme de roteiro, direção, fotografia, cenografia, montagem, trilha musical e elenco num patamar de grandeza em técnica e arte. Um filme com a régia de Leone, de closes e planos gerais majestosos. Um filme para o brilho de uma atriz como poucas. 
Cardinale, de muitos filmes e papéis, composição, imagem e estilo. Símbolo da beleza e da força da mulher italiana, latina, em um cinema para olhos que admiram, para o sentimento, a respiração forte, o encanto e o delírio.

Comentários

Postagens mais visitadas