Jojo Rabbit

JOJO RABBIT, UMA FÁBULA


Sátira antinazista, Jojo Rabbit, dirigida por um neozelandês, Taika Waititi, sensível, criativa, bem construída, bem humorada, filme de formação, tomada da consciência infantil de um menino alemão de 10 anos, que troca o fanatismo fantasioso nazista e anti judeu pela dor da perda, pela quebra de preconceitos e pela descoberta do amor.
Filme controverso, recebendo críticas por "brincar" com o nazismo, trabalhar com a paródia, construir um Hitler, personagem do amigo imaginário do menino, com traços de um palhaço, e mostrar de forma simpática ou caricatural alguns militares alemães, treinadores de acampamento, formadores de "pequenos nazistas".
Sátiras, escracho e irreverência ao espectro nazista não são uma novidade, vale lembrar de O Grande Ditador, de Chaplin, Primavera para Hitler, de Mel Brooks, A Vida é Bela, de Roberto Benigni e Bastardos Inglórios, de Tarantino, entre outros, que subverteram paradigmas no tratamento de um tema de tamanho peso e tantas agruras.
O filme, na verdade, faz uma ousada desconstrução em torno de toda essa carga de gravidade, com o histrionismo, o absurdo, a fantasia e o delírio, carrega o contraditório e se destaca pela graça, singeleza e fluidez da narrativa. O ator mirim Roman Griffin Davis é excepcional no papel do menino visionário Jojo, e outras performances também encantam, como a de Scarlett Johansson como a doce Rosie, mãe de Jojo, antinazista, ora evasiva, ora firme, e a de Sam Rockwell, como o divertido capitão K.
A sequência inicial com a música I Want to Hold Your Hand, dos Beatles, cantada festivamente em alemão, é uma abertura que já impressiona e mostra o tom e a temperatura hilariante que o filme vai imprimir.
A relação de Jojo em sua casa com a menina judia Elsa, protegida e escondida por sua mãe, que se oculta numa parede do sótão, no estilo Anne Frank, escala os diversos sentimentos entre os dois, entre o real e a fantasia, entre o ódio do preconceito, a amizade e a ternura. É Elsa que diz a Jojo: " -- Você não é nazista, você é apenas um menino que gosta de usar um uniforme e pertencer a um clube".
História sobre o amadurecimento em meio à guerra, seus fantasmas e alegorias, e que traz a referência, no inverso, do clássico alemão dos anos 70, O Tambor, sobre um menino, também em meio à mesma guerra, que não quer crescer, do mestre alemão Volker Schlondorff.
Concorrente azarão ao Oscar 2020 de melhor filme, não faz o estilo do prêmio maior da Academia. Filme que merece um olhar especial, despido de pré-conceitos, visando enxergar o tema em questão a partir da sua proposta, que não a do modo de narrar convencional e solene do drama, e sim pelo tom leve, que pode ser também crítico e profundo, da comédia e da fábula non sense, que, diante do horror, pode fazer rir, fazer chorar, fazer pensar.
E no êxtase, a celebração da vida que renasce e vai seguir, cumprir a promessa, sair à rua e dançar a música sonhada e desejada da liberdade.

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