Poesia Sem Fim
CINEMA DE POESIA
Ambientado em Santiago nos anos 1940, retrata a vida do artista enquanto jovem, na descoberta da poesia, da rebeldia, da política, da sexualidade, da boemia, numa espécie de autobiografia em tons ficcionais e alegóricos. Filme inspirado numa visão surrealista do mundo, que o poeta abraçou após sua ida para a França, na influência de André Breton e Jean Cocteau. Hoje nos seus 87 anos, Jodorowsky é representado no filme pelo seu filho Adan, em atuação magistral, hilária e comovente, interpretando um artista libertário nos seus 20 anos, que se expressa no vigor de todas as artes, literatura, música, dança, circo, teatro, pintura. Enfrentando o mundo ao redor, suas regras e seus fantasmas, com tapas na cara do nazismo, da vida burguesa, da opressão familiar, da moral sexual, do amor conservador, transformando tudo e muito mais em alegorias e ilusões, num fake quase operístico. Um filme esteticamente primoroso, que parece estar sendo feito na hora, em frente à câmera, com mudança e transição de personagens, cenários, adereços e fantoches, como se improvisados, que equilibra e desequilibra de modo crítico, lírico e cômico. Parece não faltar nada, na celebração de excessos. O próprio autor diretor aparece em cena umas poucas vezes, de modo semi documental, sempre dirigindo-se à câmera, comentando sua própria história e trajetória. Poesia Sem Fim, um dos melhores e surpreendentes filmes do ano. De pouca divulgação e fora das listas, outsider, em sua natureza criativa. Cinema de linguagem inesperada, drama, comédia, fantasia, autobiografia de afetos e sonhos, que entra na galáxia de Fellini, juntando poesia, paixão, heresia, transgressão, encantamento e deslumbramento.
Comentário enviado pelo compositor Renato Rocha.
ResponderExcluir"Busque o difícil" é o conselho do Paul Valery, que o Jod conhece. E o Jod é um cara que segue o conselho à risca. Sua ópera surreal é fora da curva e absolutamente fora dos padrões, o que já bastaria. Mas tem muito mais, tanto em termos de texto, como de figurino, adereços etc. Para mim, que sou do subúrbio e sei o quanto isso significou em termos de cultura, informação e atraso de gosto, o filme é, acima de tudo, a epopeia da libertação do autor dos liames umbilicais da família e do grande subúrbio sul-americano.
Acho também espantoso que o filme tenha conseguido entrar no circuito comercial de exibição.
Renato Rocha.