Loving Vincent
UM FILME
PINTADO A ÓLEO
Em uma carta para seu irmão Theo, Van Gogh
escreveu: “Só podemos falar através de nossas pinturas”. Com essa frase superposta
à animação da tela A noite estrelada, começamos a fruir da estética primorosa
de Com amor, Van Gogh / Loving Vincent, em cartaz nos cinemas.
Durante todo o transcurso do filme, animações
simulam os quadros pintadas por aquele a quem foi atribuído ser o inventor da
pintura moderna. Uma invenção à altura, Loving Vincent
é o primeiro filme de animação já produzido integralmente com pinturas. Com pinceladas
de tinta sobre a tela, por meio do trabalho de 100 pintores, uma narrativa
visual composta em traços idênticos aos do artista reproduz a técnica e arte do
gênio holandês. Com base em 130 quadros, 94 reproduzidos completamente, um total de 65 mil frames pintados a óleo transpõe traços, cores,
volumes e texturas, tais quais os criados pelos pinceis de Van Gogh, para a
linguagem do cinema.
No transporte desse aparato visual, o enredo se passa um ano após a
morte de Van Gogh, e gira em torno de uma carta escrita pouco antes a seu irmão
Theo, e que não foi entregue. Com base em encenação prévia com atores, personagens retratados pelo pintor, como se saídos
das telas, vão descrevendo, em cenários ambientados das próprias obras, cada um com sua versão, a personalidade do artista, a paixão
pela pintura, os mistérios de sua alma torturada. O mote da história é
polemizar sobre os indícios do suicídio do pintor, ocorrido em 1890 na cidade
francesa de Auvers, utilizando tom e atmosfera de filme policial noir, reconstituindo em flashbacks as últimas cenas de sua vida.
A trama, com informações factuais e biográficas, além de referências à cartas do artista a seu irmão, funciona como artifício narrativo para o grande projeto cinematográfico de transformar as pinturas de Van Gogh em um impressionante fluxo visual e cromático de imagens, recriadas em nova representação e composição em movimento.
A trama, com informações factuais e biográficas, além de referências à cartas do artista a seu irmão, funciona como artifício narrativo para o grande projeto cinematográfico de transformar as pinturas de Van Gogh em um impressionante fluxo visual e cromático de imagens, recriadas em nova representação e composição em movimento.
Na direção do filme, a cineasta e pintora polonesa Dorota Kobiela e o britânico
Hugh Welchman assinam o feito de dar inegavel status de arte ao seu cinema de
animação.
Do escuro ao luminoso, a explosão de cores de Loving Vincent nos conduz numa viagem sensorial que se inicia e se encerra
na belíssima e emblemática A noite estrelada. E sobre suas luzes, animadas como espirais que giram brilhantes numa
noite elétrica, se inserem palavras do artista na última carta a seu irmão: “A vista das estrelas sempre me faz sonhar. Por
que esses pontos de luz no firmamento são insensiveis a nós? Talvez possamos
usar a morte para ir a uma estrela. Morrer de velhice seria como ir lá a pé… Lhe
desejo boa noite e boa sorte. Seu amado Vincent (Loving Vincent)”.
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