Wasp Network

WASP NETWORK, USA x CUBA


Seguindo na trilha dos filmes do Festival do Rio 2019, em foco o filme Wasp Network (2018).
O diretor francês Olivier Assayas já nos brindou com o ótimo Acima das Nuvens (2014), num duelo forte e sensível entre as atrizes Juliette Binoche e Kristen Stewart. Um diretor que parece mudar de estilo e estética a cada filme que faz. Carlos (2010), Depois de Maio (2012), Personal Shopper (2016) e Vidas Duplas (2018), são exemplos na sua filmografia.
Wasp Network é seu mais novo trabalho, diferenciado, um mergulho a seco num tema pouco visitado pelo cinema, um thriller político sobre as relações de espionagem secreta nos anos 80 e 90 entre os EUA e a Cuba de Fidel Castro. História que começa e se desenvolve numa direção que nos faz acreditar estarmos vendo um filme de propaganda anticastrista, a enaltecer as redes de terrorismo anticubanas, instaladas em Miami. Mas o turning point do filme nos dá o alívio de não ter entrado numa fria de ter ido assistir ao filme errado.
Assayas busca na fotografia, no décor, no ritmo, nos diálogos e na própria trama, recuperar a aparência dos filmes de espionagem de décadas atrás. Na linha de filme de ação, com narrativa desorganizada que vai sendo montada aos poucos, como um jogo num tabuleiro de xadrez, retrata a história real da deserção de cubanos em direção a Miami, bem como a infiltração de agentes de Castro no serviço de contra informação, a famosa Rede Vespa.
O filme peca, por vezes, num certo didatismo, com cenas e diálogos repetitivos e explicativos, circulando no mesmo lugar. E passa a oscilar entre se definir como um filme a narrar um marcante episódio político da guerra fria EUA x Cuba, ou uma história que envolve o drama humano e familiar de seus personagens.
Na ficcionalização, além de reconstituições de situações, eventos, fatos e de figuras protagonistas de uma história real, há o empréstimo documental de aparições e falas de Bill Clinton e Fidel Castro, cenas de convulsões nas ruas de Havana e outras utilizações de imagens de arquivos.
No elenco, o charme maior do filme, as presenças de estrelas como Edgar Ramirez, Penélope Cruz, Gael Garcia Bernal e Wagner Moura, além da participação do brilhante ator argentino Leonardo Sbaraglia.
Tendo como uma de suas fontes o livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria (2011), do jornalista Fernando Morais, Wasp Network chega ao Festival do Rio depois de sua exibição no recente Festival de Veneza, e de sua remontagem para nova estreia na Mostra Internacional do Cinema em SP, em outubro passado.
Com cenas filmadas in loco, onde se deram as ocorrências narradas, o filme nos leva até a ilha de Cuba e a Miami, e oferece um olhar sobre questões e temas clássicos como identidade, traição, conspiração, simulação, ética, paixão, bravura.
Enredo de espionagem no estilo padrão, que alterna bons momentos, mostra o como, por tantas e quantas vezes, Cuba conseguiu, dramaticamente, enfrentar e sobreviver aos inúmeros planos e ações terroristas. Tanto do estado norte-americano como das organizações poderosas das máfias de exilados cubanos, que tentaram sua invasão e capitulação, trazer o país de volta à sua condição de cassino de festas e negócios dos USA. História necessária para ser contada pelo cinema.
Entre o drama, a política e o bom humor, numa das cenas finais, um dos agentes revolucionários de volta à Cuba, tendo deixado a vida dupla, é entrevistado pela imprensa e perguntado sobre do que mais sentirá falta de sua vida em Miami. Ao que responde, cínicamente para a câmera: " -- de meu jeep Cherokee".

Comentários

Postagens mais visitadas