Noite Mágica


NOITE MÁGICA, SOBRE O ENCANTO E O DESENCANTO.

Em cartaz no circuito, um filme homenagem às tradições do cinema italiano, com quase todos os gêneros presentes e superpostos. Noite Mágica (2018), de Paolo Virzi. Da crônica sobre três jovens talentosos, entre rebeldes e românticos, sonhando em ser roteristas de cinema, passando pela comédia em seus vários tons, a fábula e a farsa, o cinema erótico, até o suspense policial, numa mistura proposital, com muita alternância.
Um roteiro de muitas curvas e trapalhadas, um tom acima, próximo ao caricato, intencional, numa representação over do cinema como uma ópera bufa... amores e sonhos, entre ingênuos, falidos e desonestos, festas, bebida e sexo, malícia e trapaça, glamour de atrizes, atores e produtores, sets de filmagem e seus bastidores. A magia e a desilusão, o encanto e o desencanto do cinema. Alusões a Monicelli, Marco Ferreri e Lina Wertmüller, incursões na Cinecittà com a recriação de cenas de filmagens com Fellini e Roberto Benigni.
Ao redor do sonho do cinema, dinheiro, advogados, suspense, crime, polícia, tudo junto e misturado, onde o sentido é a própria desordem dos sentidos. Filme que não nega a inspiração felliniana, de A Doce Vida, de Oito e Meio, de A Voz da Lua.
Giancarlo Giannini interpreta o personagem central do filme, um famoso e decadente produtor do velho cinema, que vive de golpes e fraudes, o arqui-vilão glamouroso, divertido, a seduzir, enganar, explorar e, mesmo assim, a emocionar, no tributo ao canastrão amoroso de tantas outras sagas e memórias das telas e da imaginação. Com a participação luxuosa da já veterana diva Ornella Muti. E de três ótimos jovens atores, Irene Vetere, Giovanni Toscano, Mauro Lamantia.
E durante todo o filme, tambem a outra grande paixão italiana, o futebol. Em quase todas as cenas, nos cenários e locações, nos quartos, salas, ruas, praças, bares, restaurantes, delegacia de polícia, sempre uma tv ligada transmitindo os jogos da copa do mundo, 1990, na Itália, com toda a gente à sua volta, sofrendo e torcendo passionalmente pela azurra...a pontuação do filme. Sem faltar a clássica investigação policial, a tentar descobrir e desvendar quem é o assassino na história, de fantasias e quebra-cabeças.
Filme de altos, meios e baixos, mas que transpira Itália, no sonho e na vida. Cinema, futebol e crime, metáforas de uma Itália imaginária e real, nostálgica e atual, que em vários momentos surpreende, provoca, apaixona, incomoda, comove.
Talvez, um filme a narrar o final de uma era romântica. Entre cenas escuras e luminosas.
Noite mágica, nada a mais nem a menos!

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