Elia Kazan

ELIA KAZAN, UM MESTRE DO CINEMA, UMA CARREIRA EM DUAS VIAS



Elia Kazan, nascido em 7 de setembro. 
Política e cinema fazem cruzamentos nem sempre com equilíbrio.  Vida real e a ilusão e o drama das telas produziram muitas vezes conflitos difíceis, dolorosos, controversos, questionáveis. Um dos importantes personagens no centro dessa dubiedade ao longo da história da sétima arte foi, indiscutivelmente, um dos mestres, autores  realizadores de grandes filmes, Elia Kazan.
Pressionado nos anos do terrível McCarthismo, a ação política anti-comunista de "caça às bruxas" a atores, roteiristas, diretores e técnicos de cinema emprendida pelo senador Eugene McCarthy, Kazan compareceu à Comissão de Atividades Antiamericanas, em 1952, para depor contra colegas da indústria do cinema de Hollywood, ex-companheiros seus do partido comunista, nos anos 30. O que lhe rendeu severas críticas, inimizades, desprezo e desgosto até o fim de sua vida. Esse o lado obscuro que muito denegriu a carreira do grande diretor, constituindo-se num dos maiores paradoxos do mundo das artes. 
Seus filmes foram a expressão de um cinema de alta qualidade, um cineasta que deixou uma obra de grande mérito, parte do melhor que se fez na história do cinema. Histórias eternizadas, prêmios incontáveis, atores e atrizes do porte de Marlon Brando, Vivien Leigh, Gregory Peck, James Dean, Anthony Quinn, Rod Steiger, Eva Marie Saint, Nathalie Wood, Warren Beaty, Kirk Douglas, Robert De Niro, entre outros.
Um dos fundadores da Escola Actor's Studio, em 1947, que formou uma geração de artistas e transformou o modo de representar no teatro e cinema nos USA, assinou filmes com estilo inigualável e que marcaram época. 
"O Sol é Para Todos" (Gentleman's Agreement / 1948), um clássico anti-racista, que aborda o antissemitismo, um libelo contra a intolerância, estrelado por Gregory Peck, e que rendeu a Kazan os Oscars de melhor filme e melhor diretor. 
O clássico "Um Bonde Chamado Desejo" (A Street Car Named Desire / 1951) venceu quatro Oscars, incluindo o de melhor atriz para Vivien Leigh e o de melhor ator coadjuvante para Karl Malden, vencendo também o prêmio especial do Júri do Festival de Veneza. Uma adaptação ousada da obra do dramaturgo Tennessee Williams, levou às telas a exposição de uma tensão pouco vista até então, obtendo uma química de alta voltagem entre Leigh e Brando, o que deu ao filme uma força erótica celebrada até os dias atuais. Um filme lendário, atribui-se a Kazan ter explorado de forma hábil uma suposta doença de bipolaridade de Vivien Leigh para arrancar dela a extraordinária composição da personagem Blanche Du Bois.
Seguiu-se "Viva Zapata" (Viva Zapata! / 1952), drama biográfico baseado na saga do revolucionário mexicano Emiliano Zapata, com roteiro de John Steinbeck, com Brando no papel título e Anthony Quinn e Jean Peters no elenco, dando a Quinn o Oscar de melhor ator coadjuvante.
"Sindicato de Ladrões" (On The Waterfront / 1954), novamente com Brando como protagonista, drama sobre glórias e desilusões do boxe, corrupção e luta sindical no universo dos estivadores, tem ainda Lee J. Cobb, Rod Steiger, Karl Malden e Eva Marie Saint, com trilha musical de Leonard Bernstein. Na lista dos melhores filmes de todos os tempos, venceu 8 Oscar, entre eles o de melhor filme, melhor ator para Brando e melhor diretor para Kazan.
"Vidas Amargas" (East of Eden / 1955), com o talento de James Dean, baseado em romance de John Steinbeck, reconta o drama bíblico de Abel e Caim, adaptado para o cenário interiorano dos USA nos anos da 1a. guerra mundial. No filme, Dean, segundo críticos, não precisou representar, vivendo seu próprio papel, o do jovem inquieto e revoltado.
Muitos outros os sucessos de Elia Kazan, "Pânico nas Ruas" (Panic in The Streets /1950), "Boneca de Carne" (Baby Doll / 1956), "Um Rosto na Multidão" (A Face in The Crowd / 1957), "Rio Violento" (Wild River/ 1960), "Clamor do Sexo" (Splendor in the Grass / 1961),  "Terra de um Sonho Distante" (America, America / 1963), "Movidos pelo Ódio" ( The Arrangement / 1969), "Os Visitantes" (The Visitors / 1972) e "O Último Magnata" (The Last Tycoon / baseado em Scott Fitzgerald / 1976). Todos, crônicas e retratos do sonho, da ambição e aspectos de uma dura realidade social norte-americana, de expressiva qualidade cinematográfica, que construiram parte do melhor cinema mundial.
Ilías Kazantzóglus nasceu em Constantinopla, atual Istambul /Turquia, em 7 de setembro de 1909. Nos deixou em 2003 aos 94 anos.
Levado ao palco na cerimônia da Academia, em 1999, já nos seus 90 anos, pelas mãos de Martin Scorsese e Robert De Niro, para receber um terceiro Oscar, pelo conjunto de sua obra, recebeu o aplauso de muitos e também o protesto de alguns artistas, numa simbiose entre ídolo, mestre e persona-non-grata. 
Elia Kazan, uma carreira de duas vias, marcada por sua atuação, a construida nas telas e fora delas. 



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