Richard Donner

 O VÔO ALTO DE RICHARD DONNER


O cineasta norte-americano Richard Donner nos deixa aos 91 anos. Diretor de filmes de estúdio, o chamado cinema comercial, cinemão, filmes de mercado etc, foi um dos grandes, um dos mais brilhantes. Donner ousou com uma cinematografia que deixou pérolas, filmes inesquecíveis, alguns deles blockbusters, que inovaram em temática, abordagem e personagens, além da eficiência de um saber e fazer cinematográfico.
Seu "Superman — o Filme" (1978), maior orçamento até então em Hollywood (US$ 55 milhões), trouxe às telonas pela primeira vez o lendário super-herói das graphic novels, repetindo o feito em "Superman II — a Aventura Continua" (1980). 
No primeiro deles, além do protagonismo do ator Christopher Reeve no papel do herói, compôs um elenco com uma galeria de astros que viria a marcar o luxo e a categoria do filme. Lá estão Marlon Brando, Gene Hackman, Glenn Ford, Terence Stamp, Trevor Howard, Suzannah York, Valerie Perrine, Maria Schell, em expressivas atuações. "Superman — o Filme" segue nas retinas e corações dos cinéfilos e apaixonados pelo bom e ousado cinema. Várias cenas emblemáticas, entre elas a do vôo do homem de aço com sua amada Lois Lane (Margot Kidder) pelo espaço sideral, narrado em off pelos pensamentos e pelo êxtase da personagem, com efeitos visuais até então inéditos, que nos emocionou nas salas de cinema de todo o mundo. O filme, um tributo amoroso e nostálgico a um dos ícones da cultura pop americana, que junta aventura, humor, romance e o combate entre herói e vilões, na eterna luta do bem contra o mal, teve aclamação de público e reconhecimento da crítica, dentro dos parâmetros das super produções da indústria do cinema dos USA. Ali, na magia e no fascínio da ficção, a permanente ilusão do homem e suas forças supremas. Na primeira entrevista de Lane, repórter do Planeta Diário, com Superman, ela pergunta: " — Você bebe?" Superman: " — Não bebo quando estou voando". A destacar também no filme, a trilha musical impecável de John Williams.
O vôo alto de Richard Donner, além do primeiro Superman na tela grande, realizado bem antes dos recursos gráficos e digitais de ponta, também alcançou outras marcas, sucessos, com a qualidade do grande diretor. Como o primeiro da série "A Profecia" (1976), assustador, macabro, empolgante, clássico no gênero da abordagem do anticristo, com performances esplêndidas de Gregory Peck e Lee Remick.
A série "Máquina Mortifera" de 4 filmes, iniciada em 1987, com a dupla de tiras vivida por Mel Gibson e Danny Glover, poderosa franquia cinematográfica que mistura comédia e ação policial, com dois heróis atrapalhados, éticos, corajosos, que acertam e falham, humanizados, e que fogem o tempo todo da cartilha e da técnica convencional da profissão de policiais.
O conto de fadas romântico "O Feitiço de Áquila" (1985), a referência na aventura infanto juvenil "Os Goonies" (1985), o western cômico e sedutor "Maverick" (1994), são outros filmes importantes na carreira de Richard Donner, encerrada com o filme de ação, sobre a decadência e a corrupção policial, "16 Quadras" (2006), um diretor que começou na tv nos anos 60 com preciosidades, dirigindo episódios de séries como "Além da Imaginação / Twilight Zone", "O Fugitivo" e "Agente da Uncle".
Em recente entrevista, Donner criticou o excesso de heróis sombrios no cinema atual. E os comparou a Donald Trump.
"Quando eles (os super-heróis) estão sombrios, desolados e bravos em excesso, não acho divertido. Acho que já existe realidade sombria suficiente. Acabamos de passar 4 anos disso".
Richard Donner apostou, com uma filmografia extensa e variada, em um cinema mágico, de força lúdica, em um entretenimento com inteligência, imaginação, competência. 
E que nos ensinou, bem antes de muitos outros no cinema, que o homem podia voar.

Comentários

Postagens mais visitadas