Kieslowski

 O CINEMA DE KRZYSZTOF KIESLOWSKI


Diretor polonês, com carreira na Polônia e posteriormente na França, nasceu em um 27 de junho. Faria 80 anos em 2021. Um dos grandes do cinema, sua série "Dekaloog" e sua trilogia "Bleu, Blanc, Rouge" são antologias do que já se realizou de melhor na sétima arte mundial em todos os tempos.
A série "Dekaloog", de 10 médias-metragens, lançada na TV polonesa em 1989, referenciada nos 10 Mandamentos — traz um título por mandamento, trata de conflitos morais e políticos da sociedade europeia, no microcosmo de Varsóvia, muito marcada pelo nazismo e pelo ateísmo. Dramaturgia atravessada de crítica social, pondo em crise religião, ciência, justiça, honra, amor, moralidade sexual e outros temas, sempre refletindo sobre questões éticas e o próprio sentido da condição humana. Os mais conhecidos episódios da série, e que ganharam novos formatos como longas, foram "Não Amarás" e "Não Matarás" (Prêmio do Júri do Festival de Cannes).
Sua trilogia das cores "Bleu, Blanc, Rouge" (1993/1994), remetendo às cores da bandeira francesa e aos ideais da Revolução Francesa, "A Liberdade é Azul" (Leão de Ouro de Melhor Filme no Festival de Veneza de 1993) "A Igualdade é Branca" (Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival de Berlim de 1994) e "A Fraternidade é Vermelha", encanta com o vigor e o brilho das narrativas com que aborda questões filosóficas existenciais nos limites de seus personagens. Filmes com um elenco da qualidade de Juliette Binoche, Irène Jacob, Julie Delpy, Emmanuelle Riva e Jean-Louis Trintignant. Um cinema de poesia e também de aspereza, de silêncios, todos os 3 filmes com histórias em torno da quebra dos vínculos afetivos. Há breves aparições de personagens de um filme nos outros, sugerindo a concomitância das histórias.
Kieslowski, antes da ficção, começou sua experiência no cinema realizando documentários.
"Naquela época eu estava interessado em tudo que pudesse ser descrito pela câmera do documentário. Havia uma necessidade, uma ânsia, de descrever o mundo". (...)
"Nem tudo pode ser descrito. Esse é o grande problema do documentário. Ele acaba caindo em sua própria armadilha. Quanto mais ele quer se aproximar de alguém, mais essa pessoa se afasta dele".
(Entrevista a Danusia Stok, no livro "Kieslowski on Kieslowski" / 1993).
Em outra sua entrevista, pelos anos 1990, traduzida e publicada no JB, Kieslowski também fez considerações sobre sua dificuldade e frustração com o documentário e porque o deixou, onde aponta o lado público e oficial como superfície, tanto das pessoas como dos assuntos. E que somente na ficção podia alcançar e tratar dos temas das grandes verdades, que se localizam, para ele, na vida privada. Foi sua escilha, e certamente onde ele conseguiu imprimir com profundidade seu olhar intimista e humanista.
Entre as suas duas citadas séries, o destaque para outra de suas obras, o mágico e poético "A Dupla Vida de Véronique" (1991), que também venceu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes. Um filme sobre o duplo, a duplicidade nas vidas paralelas de duas jovens, uma polonesa e uma francesa, a consciência de uma sobre a outra, mistérios e simbolismos de duas vidas superpostas.
O mestre Krzysztof Kieslowski nos deixou em 1996, com 54 anos. Seu cinema político e existencial, denso e complexo, centrado em cotidianos, entre enigmas e inesperados, sempre sublinhado pelas trilhas musicais dramáticas de Zbigniew Preisner, é legado de um dos mais importantes cineastas autores de nosso tempo.

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