Pastor Cláudio
Filme Pastor Cláudio.
Entrevista do ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra ao psicólogo Eduardo Passos.
Direção de Beth Fomaggini / 2017.
Tema, a ditadura militar e seus crimes hediondos. Personagem, um dos principais executores destes crimes, entre os anos 1970 e 80, hoje convertido pastor evangélico. Nem o tema nem seu personagem garantiram um bom cinema, o filme promete mais do que entrega, tanto na linguagem como no conteúdo.
Não é habitual neste blog comentar filmes em que não serão realçadas suas qualidades. Mas a relação entre cinema brasileiro e ditadura militar é relevante e urgente, e não escapa ao interesse e ao olhar crítico.
Cada filme, documentário ou de roteiro ficcional, que se aventura a escavar a mancha de horror e sangue que se instalou no Brasil por décadas, desde os anos 1960, cria a expectativa de nos trazer novas infomações e reflexões sobre esse passado, absolutamente não enterrado. Dos filmes já dedicados ao tema, alguns deles têm bons recortes, qualidade e contundência. Cito alguns deles, Pra Frente Brasil (Roberto Farias, 1982), Nunca Fomos Tão Felizes (Murilo Salles, 1984), Cabra Marcado pra Morrer (Eduardo Coutinho, 1984), Lamarca (Sergio Rezende, 1994), O Que é Isso, Companheiro? (Bruno Barreto, 1997), Ação entre Amigos (Beto Brandt, 1998), Que Bom te Ver Viva (Lúcia Murat, 1989), Cabra Cega (Toni Venturi, 2005), O Dia em que Meus Pais Sairam de Férias (Cao Hamburger, 2006), Zuzu Angel (Sergio Rezende, 2006), Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2007), Cidadão Boilesen (Chaim Litewski, 2009), Diário de uma Busca (Flávia de Castro, 2011) O Dia que Durou 21 Anos (Camilo Tavares, 2012), Repare Bem (Maria de Medeiros, 2013), Em Busca de Iara (Flávio Frederico, 2014). Há muito mais a se fazer. No cinema e na politica. Os fantasmas da ditadura civil militar seguem à nossa volta, absolutamente impunes e seguros de sua vida longa, quase eterna, entre nós e sobre nós. Somos uma sociedade sem a educação política necessária para entender o mal em sua essência, sua herança que nos atrasa e nos imobiliza em nossa emancipação política. As últimas eleições de 2018 vieram atestar essa condição e essa penúria.
Não é habitual neste blog comentar filmes em que não serão realçadas suas qualidades. Mas a relação entre cinema brasileiro e ditadura militar é relevante e urgente, e não escapa ao interesse e ao olhar crítico.
Cada filme, documentário ou de roteiro ficcional, que se aventura a escavar a mancha de horror e sangue que se instalou no Brasil por décadas, desde os anos 1960, cria a expectativa de nos trazer novas infomações e reflexões sobre esse passado, absolutamente não enterrado. Dos filmes já dedicados ao tema, alguns deles têm bons recortes, qualidade e contundência. Cito alguns deles, Pra Frente Brasil (Roberto Farias, 1982), Nunca Fomos Tão Felizes (Murilo Salles, 1984), Cabra Marcado pra Morrer (Eduardo Coutinho, 1984), Lamarca (Sergio Rezende, 1994), O Que é Isso, Companheiro? (Bruno Barreto, 1997), Ação entre Amigos (Beto Brandt, 1998), Que Bom te Ver Viva (Lúcia Murat, 1989), Cabra Cega (Toni Venturi, 2005), O Dia em que Meus Pais Sairam de Férias (Cao Hamburger, 2006), Zuzu Angel (Sergio Rezende, 2006), Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2007), Cidadão Boilesen (Chaim Litewski, 2009), Diário de uma Busca (Flávia de Castro, 2011) O Dia que Durou 21 Anos (Camilo Tavares, 2012), Repare Bem (Maria de Medeiros, 2013), Em Busca de Iara (Flávio Frederico, 2014). Há muito mais a se fazer. No cinema e na politica. Os fantasmas da ditadura civil militar seguem à nossa volta, absolutamente impunes e seguros de sua vida longa, quase eterna, entre nós e sobre nós. Somos uma sociedade sem a educação política necessária para entender o mal em sua essência, sua herança que nos atrasa e nos imobiliza em nossa emancipação política. As últimas eleições de 2018 vieram atestar essa condição e essa penúria.
Mas, voltemos ao filme em questão, em cartaz.
Pastor Cláudio é uma promessa de um documentário que não se realiza. Um filme de estúdio, de simplória arquitetura e padrão televisivo, e que se resume em uma entrevista tosca, quase tatibitate, com um ex-agente da repressão, hoje uma pessoa senil, confusa e desarticulada, com memória turva sobre fatos, lugares, datas e nomes, e cheia de dúvidas, lapsos e incertezas. Um frio cumpridor de ordens num passado de horror e martírio, que obteve status de ter sido um dos mais violentos e poderosos exterminadores do regime de excessão, aqui um frio e distante entrevistado, hoje pastor evangélico, hesitante, que se expressa de forma precária e banal e que, praticamente, só concorda e confirma o que o entrevistador afirma, derrapando, entre perguntas e respostas.
Algumas tentativas de abordagem sobre importantes ações e episódios, como as torturas em quartéis do exército, as bombas na OAB e no Rio Centro, a casa da morte em Petrópolis, as incinerações de corpos numa usina em MG, e até as articulações de uma citada irmandade de comando (sic!), mas os relatos são incompletos, frágeis, débeis, imprecisos, evasivos, inconclusos.
Uma entrevista rasa e não um filme documentário, já que não há linguagem cinematográfica, primário em roteiro, enquadramentos, cortes, ritmo e dramaticidade. Que chove no molhado.
Nada acrescenta ao que já se sabe sobre o tema a partir do livro Brasil Nunca Mais (1a edição em 1991 - coord. de D. Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel e Jaime Wright / Ed. Vozes), de outras pesquisas e publicações subsequentes e do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, de 2014. Nada de novo sobre o que precisamos saber sobre os subterrâneos da ditadura, seus protagonistas, suas monstruosidades e, principalmente, seus antecedentes, seus modos de organização e suas articulações políticas, militares empresariais, nacionais e internacionais, e sua sequência de desdobramentos.
O filme, enfim, rateia num mesmismo de informações sobre as mazelas da ditadura, sem aprofundar ou preencher lacunas. E incorre, por vezes, numa perigosa naturalização da indignação sobre seus feitos e efeitos.
Seu mérito reside, pelo menos, no fato de revisitar o tema, reiterando a política de extermínio ali institucionalizada. Pra que olhemos em volta. Os tentáculos do regime de excessão e violência continuam infelizmente por aí, à espreita. Admirados pela imensa legião de fascistas que sairam do armário em nosso país. Liderados por um presidente da república que elogia a tortura e celebra o golpe militar.
Olá, Dermeval,
ResponderExcluireste texto é bem propositado. O filme, em si, pelo que você expõe, não é tão importante a ponto de ser analisado aqui neste espaço tão legal. No entanto, por meio dele você nos apresenta um elenco de nomes de ótimos filmes sobre o mesmo assunto. Alguns esquecidos, outros ainda na minha memória, por estes nomes me dei conta do valor da sua crítica. Apoiado numa obra embaçada você clareou o caminho por onde andou os importantes referenciais imagéticos sobre um período que se quer esquecer, ou melhor, se tenta inventar um significado diferente.
Bravos, Dermeval, todos deviam ler este texto!
Obrigado Rosana, pela sua leitura sempre atenciosa e inteligente! O tema, seja enquanto história ou enquanto ameaça do seu retorno, merece nossa inquietação. Os filmes, os bons e os ruins, ao tratar dessa memória, nos alcançam e nos solicitam.
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