Glauber Rocha

 GLAUBER ROCHA, MEMÓRIA E CINEMA.


Glauber Rocha partiu  num 22 de agosto, 1981, aos 42 anos.
Cineasta brasileiro, um dos criadores do movimento Cinema Novo, que buscou reinventar linguagem e temas do cinema no Brasil, no período de fins dos anos 50 e durante a década de 60. 
Glauber deixou uma obra em seus filmes, seus ensaios e livros, que norteiam até hoje uma importante discussão sobre o cinema e sobre o Brasil.
"Revisão Crítica do Cinema Brasileiro" (Civilização Brasileira, 1963), Manifesto "Uma Estética da Fome" (1965), "Revolução do Cinema Novo" (Alhambra/Embrafilme, 1981 / Cosac y Naify, 2004), "Roteiros do Terceyro Mundo - Coletânea" (Alhambra/Embrafilme, 1985), são alguns de seus livros e textos fundamentais para entendê-lo como pensador revolucionário, suas ideias, princípios, críticas e conceitos sobre cinema.
Vale lembrar, Glauber foi leitor, admirador, de Frantz Fanon, filósofo marxista francês da Martinica, um dos mais importantes pensadores sobre a descolonização, autor de "Os Condenados da Terra" (1961).
Os filmes, "Barravento (1962), "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), "Terra em Transe" (1967), O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1969), "O Leão de Sete Cabeças" (1970), "Cabeças Cortadas" (1970), "Câncer" (1972), "Claro" (1975), "A Idade da Terra" (1980), são seus longas que formam uma galeria de autor e obra cultuados nos mais diversos circuitos cinematográficos mundo à fora.
O vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey), sua mulher Rosa (Yoná Magalhães), o cangaceiro Corisco (Othon Bastos), o beato Sebastião (Lidio Silva), o matador Antônio das Mortes (Mauricio do Valle), o governador populista Vieira (José Lewgoy), o político Porfírio Diaz (Paulo Autran), o poeta Paulo Martins (Jardel Filho) são alguns dos personagens dos filmes "Deus e o Diabo na Terra do Sol" e "Terra em Transe", gravados, cravados, impressos, no imaginário do cinema, da arte e da cultura brasileira. Outros atores de Glauber, Hugo Carvana, Glauce Rocha, Luiza Maranhão, Antônio Pitanga, Odete Lara, Jofre Soares, Jece Valadão, Emmanuel Cavalcanti, Norma Bengell, Danuza Leão, Tarcísio Meira, Ana Maria Magalhães, marcaram com muita força em seus filmes.
Autores e críticos publicaram análises profundas e rigorosas sobre o cinema de Glauber, entre eles Ismail Xavier, Paulo Emílio Salles Gomes, Jean Claude Bernardet, Ivana Bentes, José Carlos Avellar, que buscaram desvendar e compreender características e inovações da proposta e da linguagem do cinema de Glauber.
As trilhas músicais de Sergio Ricardo, Marlos Nobre, as inserções de Villa-Lobos, as citações poéticas de Mário Faustino, a fotografia e o olhar de Waldemar Lima, Luiz Carlos Barreto, Dib Lutf, Afonso Beato, Luiz Carlos Saldanha, Pedro de Moraes, foram decisivos em seus filmes. Entregaram som e luz, poesia e drama, quadros e movimento, a um cinema de estética rara, de uma brasilidade realista, barroca, trágica, épica, alegórica, únicas em Glauber, que perseguiu unir arte, política, consciência histórica e identidade nacional.
Glauber Rocha encarnou e deu eco a uma proposta de cinema, por sua força e potencialidade, que fosse além de uma arte considerada por ele como idealista, e que deveria manter-se em diálogo com a realidade. A ideia que a sociedade reclama por um cinema do real, uma arte que não se omite e que expressa suas contradições sociais e políticas.

"O Cinema Novo é um projeto que se realiza na política da fome e sofre, por isso mesmo, todas as fraquezas consistentes de sua existência".
(Manifesto "Uma Estética da Fome", Glauber Rocha).

"Tá contada minha história, verdade e imaginação,
Espero que o sinhô tenha tirado uma lição,
Que assim mal dividido esse mundo anda errado,
Que a terra é do homem, num é de Deus nem do Diabo".
(Trilha no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, Sérgio Ricardo/Glauber Rocha).

"A poesia e a política são demais para um só homem" (jornalista e poeta Paulo Martins/Jardel Filho, filme "Terra em Transe").

Seu cinema sempre presente, salve Glauber!

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