Demi Moore e Proposta Indecente

PROPOSTA INDECENTE

Revendo Demi Moore em Proposta Indecente, no isolamento da quarentena.



Nem só de filmes extra classe vive a crítica cinematográfica. Nem só de filmes de alta qualidade, com o status de obra de arte, vive o cinema.
Heróis e anti-heróis, mocinhos e vilões, galãs e musas, são algumas das químicas buscadas no cinema ao longo de sua trajetória.
Casais românticos são um dos destacados pilares do cinema, dos filmes clássicos a outros sem a mesma categoria, mas que nunca deixaram de ser um dos apelos principais nas tramas que encantam e seduzem o grande público das salas de cinema. 
E o Vento Levou (Victor Fleming, 1939), com Clark Gable e Vivien Leigh, Casablanca (Michael Curtiz, 1942) com Ingrid Bergman e Humphrey Bogart, A Princesa e o Plebeu (1953), com Audrey Hepburn e Gregory Peck, Ladrão de Casaca (Alfred Hitchcock, 1955) com Grace Kelly e Cary Grant, são alguns dos filmes imortais que celebraram dramas e comédias de amor nas telas.
No género romance das últimas décadas, filmes como Uma Linda Mulher (Garry Marshall, 1990), com Richard Gere e Julia Roberts, As Pontes de Madison (Clint Eastwood, 1995) com Eastwood e Meryl Streep, Titanic (James Cameron, 1997), com Kate Winslet e Leonardo di Caprio, exemplos que emocionaram plateias mundo a fora. Outros incontáveis seguiram na mesma tecla, onde o amor está ou esteve no ar. E o happy end nem sempre foi o trunfo mais utilizado por seus autores e diretores.
Um deles, também dos anos 90, será objeto aqui nessa crítica, o filme e sua estrela, de raro e intenso brilho e que não perdurou com sucesso nas telas.
Robert Redford, com sua persona carismática de galã, e Demi Moore são os astros de Proposta Indecente (Adrian Lyne, 1993), filme na trilha das fábulas do amor, dos romances de folhetim, com as variantes clássicas do amor que se tem, que se quer, que se deseja, que se arrisca, que se ganha, que se perde, que se desiste.
A história do bilionário que esbanja dinheiro e charme num cassino de Las Vegas (Redford), que se apaixona e oferece 1 milhão de dólares por uma noite com uma bela e intrigante mulher (Moore) que, mesmo casada e com marido ao lado (Woody Harrelson), torna-se o nada obscuro objeto do desejo. A questão enunciada, banal ou profunda, a provocação que vai mover a todos, personagens e público: O dinheiro pode comprar tudo?
Filme que tem uma boa pegada, com alguns clichês, mas com trama, glamour, clima e boas cenas, e música de John Barry. Sexo, dinheiro, poder, sedução, paixão, amor, ciúme, fantasia, realidade, ingredientes que costumam funcionar desde que existe o cinema. Foi o auge da carreira de Demi Moore, iniciada três anos antes com o sucesso estrondoso de Ghost (Jerry Zucker, 1990), ao lado de Patrick Swayze.
Em Proposta Indecente, a beleza de Demi Moore impressiona, está à altura da galeria das mais lindas mulheres da história do cinema de Hollywood. Produção que arrecadou mais de duzentos e cinquenta milhões de dólares de bilheteria e colocou a atriz num patamar dos mais altos cachês da indústria cinematográfica. Concorreu ao People's Choice Award: Melhor Atriz de Drama, 1994.
Depois, misteriosamente, começou a desabar. Assédio Sexual, Striptease, A Jurada, Qestão de Honra, Até o Limite da Honra, todos nos anos 90, filmes cada vez menores... daí foi decaindo, sumindo.
De 2000 a 2010 atuou em As Panteras — Detonando, Um Plano Brilhante, Margin Call — O Dia Antes do Fim e em outros filmes, cerca de 40, na sua maioria inexpressivos, ruins, alternando personagens protagonistas e coadjuvantes, papéis de pouco brilho e consistência. 
De lá pra cá pouco se viu e ouviu falar em Demi Moore. Uma atriz de beleza e talento, e que não fixou a carreira de estrela que anunciou e prometeu. O cinema, seus encantos e desencantos, mistérios. 
Sem ter ainda 60 anos já escreveu sua autobiografia, "Inside Out", pontuada mais por acidentes de percurso, como uma overdose que quase a matou, vida e conflitos com seus maridos (Bruce Willis, Ashton Kutcher...) e suas aventuras sexuais. Mais fait divers e menos cinema. 
Proposta Indecente, um filme com boa temperatura, acima de mediano, com seus pecados de roteiro, o maniqueísmo do jogo do poder e da sedução, a aposta no surrado filão do tema da mulher objeto, tiradas moralistas sobre ética e dinheiro, e o recorrente final estilo Casablanca: No triângulo amoroso, quem a mocinha vai afinal escolher para viver seu grande amor? 
Mas tudo isso se repete e se renova, e tudo isso é também cinema. De tudo e contudo, rever Demi Moore no seu ápice e esplendor na tela, um ótimo e prazeroso programa light de cinema, em época de quarentena.


Comentários

Postagens mais visitadas