Orson Welles

ORSON WELLES, O CINEMA INTERMINÁVEL



Em 6 de maio de 2020 Orson Welles faria 105 anos, mestre maior e um dos gênios criadores, considerado na galeria dos principais autores e inventores na arte do cinema. Sobre Welles, além dos seus filmes, marcantes, notáveis, construiu-se uma mitologia em torno de seu nome, sua imagem, sua biografia.
Uma das suas histórias que ficaram famosas está relacionada ao Brasil, onde Welles esteve nos anos 1940 para filmar o carnaval carioca, e onde deixou inconcluso seu polêmico filme "É Tudo Verdade" (It's All True, 1942), demitido que foi pela empresa RKO, insatisfeita com o curso das filmagens e a rebeldia do diretor. Por aqui, Welles travou contatos com vários artistas, fascinou-se pela cultura carioca dos morros e do samba, tendo sido guiado por Grande Othelo e Herivelto Martins. Há um documentário com o mesmo título, de 1993, de Bill Krohn e Myron Meisel, que exibe cenas originais deste filme de Welles.
Antes de sua vinda ao Brasil lançou nos EUA seu maior clássico, "Cidadão Kane" (Citizen Kane, 1941), considerado um dos melhores filmes de todos os tempos na história do cinema, onde narra a ascensão e decadência do poderoso personagem Charles Foster Kane, interpretado por ele próprio, que teria sido inspirado no magnata da imprensa norte-americana William Randolph Hearst que, incomodado, buscou impedir e dificultar ao máximo o lançamento do filme, tentou inclusive mandar queimar os negativos, acusando Welles de ser comunista para prejudicar a reputação do cineasta. Há um documentário sobre esses bastidores, "A Batalha em Torno de Cidadão Kane" (1995), de Thomas Lannon e Michael Epstein. 
No clássico de Welles sobre Kane, o destaque dado aos seus ousados ângulos de câmera, plongées e contra-plongées, planos de campo e contracampo, narrativa não linear, bem como a enigmática palavra chave do filme, Rosebud
Outra sua obra prima, "A Marca da Maldade" (Touch of Evil, 1958), onde também participa como ator, junto a Marlene Dietrich, Charlton Heston e Janeth Leigh, inscrita como uma das mais prestigiadas de sua filmografia, devido principalmente ao famoso e instigante plano sequência com duração de 3 minutos que abre o filme, e da sua sequência final de suspense, impactante, surpreendente.
Escreveu, dirigiu e atuou em muitos outros filmes, e além deles façanhas, como a histórica transmissâo radiofônica pela CBS, em 1938, do rádio drama "A Guerra dos Mundos", que comoveu e assustou as plateias dos EUA, iludindo os ouvintes, simulando noticiar uma invasão verdadeira de alienígenas. 
Em 2002 Welles foi eleito o diretor mais importante do cinema mundial numa eleiçâo feita pelo British Film Institute. Outros de seus clássicos, "O Estranho" (The Stranger, 1946), "A Dama de Xangai" (The Lady from Shangai, 1947), "Macbeth" (1948) e "Othelo" (1952), os dois baseados em Shakespeare, "Grilhões do Passado" (Mr. Arkadin, 1955), "O Processo"  (The Trial, 1962), baseado em Franz Kakfa, "O Toque da Meia Noite" (Falstaff, 1965), entre os mais reconhecidos.
Orson Welles inovou na técnica cinematográfica, com sua impetuosidade e ousadia abriu e fechou portas em sua carreira, lutou contra a interferência dos estúdios em seu trabalho, produziu importantes mudanças temáticas, conceituais e de linguagem no cinema norte-americano e mundial. 
Nos deixou aos 70 anos, em 1985, terminando sua vida entre muitas dívidas, frustrações e decepções. Considerado um enfant terrible do cinema, foi encontrado morto, após ataque cardíaco, em sua cama, abraçado à sua máquina de escrever.
Em 2018 Mark Cousins exibiu no Festival do Rio o seu documentário "Os Olhos de Orson Welles" (Eyes of Orson Welles, 2018), com algumas relíquias, cenas da vida e obra do diretor. Neste filme, uma sequência rara e inusitada durante as filmagens de "The Lady from Shangai", Welles dirigindo uma cena com a atriz Rita Hayworth, então sua esposa, deitada num barco, ao sol, com seu corpo exuberante, escultural. Dela se aproxima um maquiador tentando retocar e secar seu rosto, impedido então por Welles que contrariado, grita: " —Pare! Cavalos suam, Rita brilha!".
Também em 2018, seu último filme "O Outro Lado do Vento" (The Other Side of the Wind), deixado por ele inacabado, iniciado em 1970, com mais de 100 horas filmadas e estrelado pelo diretor e amigo John Huston, com a potência habitual de Welles, foi finalmente editado com produção da Netflix, mais de 40 anos depois. 
Nestes 105 anos, comemoramos um gênio desafiador do cinema, um dos seus mais extraordinários nomes. Sem dúvida, o interminável Orson Welles.



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