Manifesto


MANIFESTO
Pra quem gosta de uma Cate Blanchett, aqui tem doze

Um dos mais brilhantes filmes exibidos nas telas esse ano, no gênero ficção, estreou em outubro e permanece em cartaz em alguns cinemas. Manifesto é uma daquelas obras autorais raras, híbrido de filme e instalações cênicas, que coloca de novo na pauta a discussão sobre cinema e arte, arte e cinema, cinema de arte. Estéticamente primoroso, destaque para cenários, figurinos, fotografia e composições da atriz. Pra quem gosta de uma Cate Blanchett, aqui tem doze. Sua persona cinematográfica encanta num recital dramático dirigido por Julian Rosefeldt, premiado artista visual alemão que traz, em forma de cinema, sua instalação montada em Berlin e Nova York em 2015.
Com uma antologia de textos poéticos, políticos e filosóficos de autores dos sécs. XIX, XX e XXI, Manifesto é uma obra conceitual, com a atriz percorrendo personagens como arquétipos da vida cotidiana e abordando temas como ficção, representação e originalidade, incluindo manifestos de vanguarda, como o dadaísmo, o futurismo e o dogma 95. Os autores dos textos são indicados  apenas no letreiro de abertura do filme. Lá estão pensadores e criadores como Karl Marx, Antoine Sant Elia, André Breton, Tristan Tzara, Sol Lewitt, Jim Jarmuch, Lars von Trier, Jean-Luc Godard. Deste último, a citação da frase, utilizada como espécie de leme do filme  "Não importa de onde se tira as coisas, mas pra onde se leva". Que remete à questão crucial da criação e suas referências, O novo e suas diversas utilizações.
Belíssimo e impactante, sem o ritmo cinematográfico habitual das narrativas de ação, e sem enredo convencional, já que concebido e realizado como série de instalações, o filme de Rosefeldt transpõe manifestos já consagrados para novos ambientes estéticos. Em sequências que se cruzam, a atriz discursa os textos encarnando figuras típicas, como uma mendiga de rua, uma mãe de familia conservadora junto com seu filhos, uma locutora âncora de telejornal, uma artista em uma galeria de arte, uma viúva em um enterro, uma coreógrafa em seu corpo de baile, uma professora em sala de aula com seus alunos. Os textos proferidos pelos personagens funcionam com objetivo de desconstruir, com provocação e ironia, as próprias situações encenadas e os próprios personagens da “vida real”.
Cate Blanchett se consolida como a Meryl Streep de sua geração. Impressiona, arraza, abusa, com o talento que já nos brindou em interpretações marcantes, como sua composição de Bob Dylan em Não Estou Lá (2007, dir. Todd Haynes), e as atuações nos dramas Blue Jasmine (2013, dir. Woody Allen), e Carol (2015, dir. Todd Haynes).
Manifesto e Cate Blanchett, arte no cinema.




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