Leonard Cohen


LEONARD COHEN
Canções e Cinema

Um ano sem Leonard Cohen, romancista, poeta, cantor e compositor. Canadense do Quebec, nos deixou aos 82 anos, após lançar seu ultimo disco, You Want It Darker. Gravou 14 albuns de estúdio, e outros ao vivo, e um de seus clássicos, Dance Me to The End of Love, foi também título de um livro, com seus poemas editados junto com pinturas do francês Henri Matisse. A integração entre poesia, música e imagem marca a obra de Cohen, com suas canções impressas não só em discos mas também em filmes, onde sua voz romântica, densa, grave e profunda, sonorizou e emocionou gestos, olhares, procuras, encontros e desencontros, valorizou performances e mise-en scènes, criando atmosferas, preenchendo silêncios e sentimentos.
O primeiro filme com sua música foi o melancólico faroeste de Robert Altman, de 1971, Quando os Homens são Homens (McCabe & Mrs. Miller), com Warren Beatty e Julie Christie, que encarnam um trambiqueiro e uma prostituta. Três faixas de seu primeiro álbum, Songs of Leonard Cohen, foram então levadas às telas por Altman. Mel Gibson e Goldie Hawn também mereceram uma de suas canções, no filme Alta Tensão, de 1990, cujo título original é o mesmo da música de Cohen, Bird on a Wire. O cineasta Atom Egoyan, em 1993, em seu filme Exótica, vestiu uma cena de striptease com a intimista Everybody Knows, gravada originalmente no disco I’m Your Man, de 1988. Oliver Stone, em 1994, inseriu na trilha de seu polêmico Assassinos por Natureza três composições de Cohen, criando o clima sombrio da jornada dos assassinos representados por Woody Harrelson e Juliette Lewis. Houve também apropriações de canções de Cohen em não tão boas utilizações. A música Hallelujah esteve em seriados e filmes norte americanos – em Shrek (2001), O Senhor das Armas (2005) e em Watchmen: O Filme (2009). A canção, de tão recorrente, fez com que Cohen se manifestasse sobre a necessidade de seu embargo. Em 2006 surgiu o documentário Leonard Cohen: I'm Your Man, que reune depoimentos do artista e suas canções interpretadas por nomes como Rufus Wainwright e Nick Cave, com Cohen cantando ao final do filme junto com a banda U2. 


Finalmente, este ano tivemos o lançamento de A Espera (L’attesa), produção de 2015 do diretor italiano Piero Messina, concorente no Festival de Veneza do mesmo ano, onde brilham as atrizes Juliette Binoche e Lou de Laâge. Um drama de superação, onde o luto e a perda são os elementos que sustentam a trama de suspense e dor, encenada num velho casarão da Sicília. A interpretação interiorizada e contida de Juliette e a expansiva de Laâge, marcam o conflito em uma espera angustiante, da mãe e da namorada, do personagem que não chega. A estética de claros e escuros da fotografia do filme se associa, numa de suas sequencias mais vigorosas, à explosão da música e voz de Leonard Cohen. A canção Waiting for the Miracle é então ouvida por cerca de cinco minutos, criando atmosfera de magia e sedução, trazendo um pouco de luz às sombras claustrofóbicas em que se relacionam as duas mulheres. A canção emociona, interferido numa narrativa de tormentos e esperanças da alma feminina. Foi a última voz de Cohen no cinema, até aqui. 
Um ano após sua saída de cena, a música de Leonard Cohen sobrevive à sua morte, cada vez que toca em discos, playlists e em sentimentos e ilusões, no cinema dos nossos olhos e ouvidos.

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