Documentário sobre Paulo da Portela

No mês da consciência negra, vale relembrar o sambista e compositor Paulo da Portela, um dos fundadores da Portela e que liderou em sua época (1901 - 1949) a luta pelo reconhecimento e valorização do samba, atuando fortemente contra a discriminação dos negros. 


Filme: Paulo da Portela O Seu Nome Não Caiu no Esquecimento 
Produção e Direção: Dermeval Netto
Coordenação: Luiz Carlos Magalhães
Narração: Haroldo Costa
Participação: Velha Guarda da Portela, Paulinho da Viola, Teresa Cristina, Cristina Buarque, Marquinhos de Oswaldo Cruz, Sergio Cabral, José Ramos Tinhorão e outros.
Participação especial: Mestre Manoel Deonísio (como Paulo da Portela)
Apoio: Secretaria de Cultura - RJ / MIS - RJ / Fundação Palmares - MINC
Duração: 55 min.
Ano de Produção: 2002
Exibido na Mostra Olhos Negros do Festival do Rio 2002 

Link no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=1BatbGKFp1s


Paulo Benjamin de Oliveira foi um dos mais importantes compositores de escola de samba, um dos fundadores da Portela. Em 1936, ao ser eleito “cidadão samba”, 100 mil pessoas se reunirem no centro do Rio para homenageá-lo. Um número impressionante, para uma cidade que tinha 1,5 milhão de habitantes. Fato que fez o pesquisador Sérgio Cabral identificar Paulo como “um dos maiores líderes populares que o Rio de Janeiro já conheceu”. Paulo foi testemunha e personagem de grandes transformações nos anos que moldaram as escolas de samba. Uma de suas iniciativas marcantes, após a criação da Portela, foi o famoso trem do samba. Paulo e seus companheiros reuniam-se no trem que partia da Central do Brasil às 18h00 para o subúrbio e o grupo, sempre no mesmo vagão, ia cantando sambas, durante o percurso do centro da cidade para o bairro de Oswaldo Cruz. Disciplina que não combinava com a imagem do sambista na época, visto como marginal pela elite branca. Contemporâneo de Cartola e Heitor dos Prazeres, Paulo acreditava na profissionalização dos sambistas. Era chamado de “professor”. Passou a vestir terno, gravata e chapéu, no que era seguido por seus companheiros, no seu lema "De pés e pescoço ocupados". O pesquisador José Ramos Tinhorão, em depoimento ao documentário Paulo da Portela – Seu nome não caiu no esquecimento, destaca como era o carnaval de rua. “Como a escola representava a sua comunidade, havia muito bairrismo. Ficaram famosas as brigas de integrantes na Praça Onze. E o Paulo da Portela era um diplomata. Primeiro, ele era muito maneiroso, se vestia bem, era bem falante. Ele não tinha esse negócio. Aparecia na Mangueira, era bem recebido. Outro ficaria com receio de ir”. Tornou-se uma espécie de porta-voz do mundo do samba e combatia o preconceito contra o povo negro. Sergio Cabral lembra, no documentário, que “nos primeiros desfiles, a polícia ficava na Praça Onze, impedindo que os foliões que terminavam de desfilar seguissem para o Centro. Eles eram obrigados a voltar, ou para o subúrbio ou para as favelas próximas”. Em 1945, após uma morte causada por briga num desfile, saiu na defesa dos sambistas. Aos jornais, ele disparou: “Os ladrões, os pilantras, os verdadeiros assassinos não estão na escola de samba. Estão na Avenida Rio Branco, de terno, colarinho e gravata”. A avenida reunia o poder financeiro do país e o discurso revela a visão política do sambista. Criada inicialmente como bloco, transformando-se depois na escola Vai Como Pode, só em 1935, quando o desfile tornou-se oficial, a escola adotou seu nome definitivo de G.R.E.S Portela. Paulo inovou nos desfiles e venceu diversos carnavais. Até a sua morte, em 1949, cantou o jeito simples da vida suburbana, o amor e acima de tudo, a escola que seguiu em seu peito. Como nesse verso, de 1941: “Chora, Portela/ Minha Portela querida/ Eu que te fundei/ Serás minha toda vida”. Atuou como um mediador, procurando aproximar dois lados de uma cidade, dividida até hoje, por conta da segregação e da desigualdade. Paulo da Portela, precursor na luta do negro pela imposição de seu talento e sua criatividade, apostava na música como caminho para sua ascensão e integração social.


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