Longa Noite

LONGA NOITE NA GALÍCIA



O 2020 Curitiba Internacional Film Festival, realizado de 7 a 15 de outubro, deixou de fora de suas premiacões o excelente filme concorrente da Galícia, "Longa Noite", de Eloy Encizo. Um belo filme, soturno, que desconstrói linguagens tradicionais, fundindo documentário com encenações e com citações literárias que buscam a memória dos fatos narrados. 

"Longa Noite" foi o filme de abertura do Festival DOC Lisboa 2019. Estive lá como crítico credenciado na cobertura do Festival. Em seu discurso de apresentação do filme de abertura do DOC Lisboa, a diretora do Festival, Cíntia Gil, referiu-se ao filme da Galícia / Espanha, de Eloy Enciso, como a escolha por um filme que passa longe do 'feel good movies', muito comum nas aberturas de festivais de cinema. Que a opção do DOC Lisboa é por um cinema político. E que a política está em tudo nesse festival, desde o esforço de organização do evento, na própria presença do público como ato político, e até na cor vermelha dos assentos da sala de exibição. Sem dúvida, uma escolha política, por um filme profundo em sua densidade humana e política. 

"Longa Noite" se passa num vilarejo de área rural da Galícia, poucos anos após o final da guerra civil espanhola. Personagens conversam, dialogam, em vários lugares públicos, fazem suas descobertas, sobre os efeitos devastadores da guerra e do regime franquista na vida e nos relacionamentos entre as pessoas do local. Um filme duro, sobre memórias, silêncios e dores. Documentário encenado, com diálogos apoiados em textos literários sobre o tema. Eloy Enciso faz um filme de conversa, sobre medos, lembranças e esquecimentos. 

Cineasta espanhol da Galícia, 44 anos, graduado em Cinema, em Cuba, "Longa Noite" é seu terceiro filme. Na entrevista antes da projeção de seu filme, me contou sobre como usou não atores nas cenas filmadas, e sobre sua pesquisa em escritos teatrais, arquivos, cartas escritas e trocadas entre sobreviventes e desaparecidos, na Galícia, da guerra civil espanhola. "Longa Noite" é um filme de jornada ao passado e suas memórias silenciadas. 

Inexplicável sua não premiação (não mereceu nenhum prêmio!!) no Festival de Filmes 2020 de Curitiba. Pior para o Festival.

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