Bernardo Bertolucci


BERNARDO, A NARRATIVA DO CINEMA QUE NÃO MORRE



Bernardo foi um daqueles cineastas que nos deixavam extasiados e, às vezes, sem fôlego ao final dos seus filmes. A beleza e a força narrativa de sua obra é única.
Último Tango em Paris e O Céu que nos Protege, estão entre aqueles filmes para serem carregados pela vida inteira, benfeitos, perfeitos, raros na arte do cinema.
Mas o que dizer de O Conformista, Novecento, O Último Imperador, La Luna, O Pequeno Buda, Beleza Roubada, Assédio, Os Sonhadores, Io e TeQual deles não é obra-prima?
Nos seus filmes, sempre a câmera apaixonada, a tensão erótica, o drama íntimo, a controvérsia política, conceito, emoção, poesia, conflito, utopia, revolução, deslumbre. E a luz do delírio, de Vittorio Storaro.
Foi poeta, professor de história da arte, chegou ao cinema pelas mãos de Pasolini, foi seu assistente, foi roteirista (Era Uma Vez no Oeste, de Sergio Leone), crítico, diretor e criador genial de filmes entre os mais polêmicos e premiados da história do cinema.
O Último Imperador ganhou em 1988 um total de nove estatuetas do Oscar, incluindo melhor filme, diretor e roteirista. Levou também quatro Globos de Ouro, o Bafta de melhor filme e o César de melhor filme estrangeiro. Como diretor, recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 2007, pela carreira, e a Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes, em 2011, pelo conjunto da obra.

Todos os temas, todas as questões, todos os dramas, perpassaram sua notável filmografia. Numa escala de tal qualidade estética e temática, difícil fazer escolhas, mas caio em tentação para comentários, curtos e pontuais, sobre alguns de seus filmes.
Último Tango em Paris (1972), numa Paris sombria e cinzenta, amantes anônimos, solidão, fascínio, desejo, erotismo, luto, o subsolo da sexualidade, a pulsão do sexo e da morte. Novecento (1976), conflitos sociais e políticos da Itália, a diferença de classe em meio a lutas camponesas pelo socialismo e o surgimento do fascismo. O Último Imperador (1987), a cidade proibida e suas muralhas, infância, amores, vida e martírio do último imperador chinês, política e cultura dos fins do sec. XIX à revolução cultural de Mao. O Céu que nos Protege (1990), crise do amor e do afeto, viagem em busca de identidades e do reencontro, na travessia da imensidão, da aridez e dos mistérios do Saara, numa África que perturba e assombra, entre a paixão e a dor. Os Sonhadores (2003), juventude, sexo, rebeldia, levante social, paixão pelo cinema, contracultura, romantismo e erotismo, na Paris convulsa de maio de 68.
Outro tanto a lembrar, entre tanta magia de histórias, tramas, personagens, representações, imagens, cores, planos, movimentos, percursos e desfechos. Cinema em sua plenitude da arte de contar, onde importam os temas e os modos de narrar. 
Na obra de Bernardo Bertolucci, um painel de histórias, tempos e lugares, de dentro e de fora, vida vivida e sonhada, cenários naturais, paisagens humanas, o corpus dramático entre o real e a fantasia.
Ele nos deixa aos 77 anos. Um grande mestre do cinema nunca morre, vira eterno, sobrevive, permanece, nos seus filmes, impressos na alma e no sentimento. 
Arrivederci, grazie, Bertolucci!


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