Um filme de afetos

  "É Doce Morrer no Mar / Nas Ondas Verdes do Mar"
                                                                                                  

Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos teve sua estreia no Festival É Tudo Verdade, nesta edição de abril 2019, que nos trouxe mais uma vez uma nova leva de filmes documentários nacionais e internacionais. 
Como destaques, o norte-americano Mike Wallace Está Aqui, o franco-argentino Piazzola - Os Anos do Tubarão, o belga Carta a Théo, o canadense Ziva Postec - A Montadora Por Trás do Filme Shoah, e os brasileiros Cine Marrocos (o vencedor da mostra nacional competitiva), Memórias do Grupo Opinião e, o filme que nos interessa aqui, Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos.
O Festival também homenageou dois cineastas mestres, que nos deixaram no ano passado, o brasileiro Nelson Pereira dos Santos, com a exibição de duas séries documentais feitas originalmente para tv, Casa Grande e Senzala (2000) e Raízes do Brasil (2004), e o francês Claude Lanzmann, com sua antologia de quatro filmes sobre o holocausto, As 4 Irmãs (Shoah, Four Sisters) de 1970, até aqui inéditos no Brasil.
Com esses registros sobre o festival, é hora de embarcar nas águas verdes do mar.


O filme Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, dirigido por Daniela Broitman, é o segundo documentário de longa-metragem sobre o compositor baiano, o anterior foi Um Certo Dorival Caymmi (2000), de Aluisio Didier.
O filme atual, de 2018, tem como sua linha mestra a conduzi-lo uma entrevista inédita de Caymmi, aos 84 anos, filmada em 1998, que nos mostra o compositor na sala e nos jardins da casa de seu grande amigo Marcelo Machado, no Rio, em grande leveza, vigor, espirituosidade e bom humor, contando casos e memórias de seus encontros com seus amigos, suas criações, suas aventuras e paixões. Ao violão, no seu modo de tocar único e inimitável (como lembra no filme seu filho Dori) canta trechos de várias de suas canções, comenta detalhes preciosos de sua criação, entre confidências, dengos e olhares, nos presenteando e emocionando com sua voz grave, melodiosa, que parece ter nascido de seu encontro eterno com o mar. O documentário tem como proposta e conceito ser um tributo declarado, generoso e carinhoso a Caymmi, o que não desmerece a ambos, este um artista merecedor de todas as homenagens.
Somos encantados e quase enfeitiçados pelos acordes, harmonias, melodias e letras, a contar histórias por uma voz com a força e a nobreza do mar, que invade ouvidos e alma, falando de magia e mistérios, de amores e dores, noites e sonhos, terra, praia, vento e areia, rede, barco, vela, vazante, maré, sereias e pescador, morena, roda, saia, rosa, flor e mulher... e tanto mais...
O filme corre como um rio, num fluxo sereno sempre para o mar, presente o tempo todo, na imagem, na música, nas histórias, na inspiração. Gilberto Gil diz, nas primeiras cenas, ser ele feito de um rio chamado Caymmi, e que enquanto ele existir Caymmi existirá. Esse o tom de quase todos os depoimentos colhidos para um filme de afetos, nas recordações amorosas de Gil e Caetano, dos filhos Dori, Nana e Danilo, que cantam, cada um deles, um clássico que toca a cada um, e nos testemunhos de pessoas muito próximas a ele, como a compositora e poeta Ana Terra e o produtor musical Guto Burgos. Arquivos de imagens também trazem lembranças e momentos especiais vividos por Caymmi com seus filhos e em encontros com outras personalidades do seu mundo e sua história, tais como Jorge Amado, Tom Jobim, Vinícius, além de cenas da gravação no canal de tv americana NBC onde canta com Andy Williams, e de um filme de produção russa onde trabalhou como ator, ao som de sua música.
Um filme de histórias e canções, de ver e ouvir, e de não esquecer, O Vento, O Mar, O Bem do MarPromessa de Pescador, Sodade Matadeira, Samba da Minha Terra, Morena do Mar, Rosa Morena, A Jangada Voltou Só, Sargaço Mar, O Quê Que a Baiana Tem?, Maracangalha, Das Rosas, Não Tem Solução, Sábado em Copacabana, Saudade da Bahia, É Doce Morrer no Mar. E muito mais...
Um filme de palavra cantada, romântico e poético, sobre um artista que fez de sua vida e sua obra uma trilha sonora essencial, mágica, iluminada, que atravessou gerações, imprimindo amor, poesia, ternura, saudade e ondas do mar nos nossos corações.

"Vamos Chamar o Vento..
Vamos Chamar o Vento...
(assovio)"


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