Imagem e Palavra

Imagem e Palavra (Le Livre d'Image)
Roteiro e Direção Jean-Luc Godard


Je Vous Salue, Godard!

"Toda imagem não passa de um caminho sobre o qual passam todos os sentidos" (Deleuze, em Imagem-Tempo)

8 cinéfilos na sala de exibição para assistir a um ensaio delírio de Godard, Imagem e Palavra (França/2018), vencedor da Palma de Ouro Especial, Festival de Cannes 2018. Com utilização de arquivos de imagens, o filme superpõe, decompõe e re-monta sequências de outros filmes, entre clássicos e folhetins (melhor, o título O Livro de Imagem), com inserção de pinturas, fotos, vídeos caseiros, desenhos, reportagens de tv, cenas documentais e textos variados, de Marx a Wilde ao google. Balaio de gatos, entre pedigrees e viralatas. Imagens são descoloridas e saturadas, desnaturadas na tonalidade e na velocidade, sons são re-alinhados e re-elaborados, com narrações do próprio diretor superpostas à outras e interrompidas bruscamente. Alternam-se palavras e frases, gráficas e faladas. Buscando como verdade de seu cinema a intersecção do real com o ficcional, aqui tambem explora, num dos capítulos do filme, a oposição entre os mundos ocidental e oriental, utilizando imagens do mundo árabe e denunciando o olhar cultural e ideológico distorcido e não inocente. Godard reúne um amplo conjunto de referências e constrói a representação subjetiva e anárquica sobre o cinema e a vida, através da montagem e colagem de fragmentos, descontínuos, afastando-se, como em alguns de seus últimos trabalhos, do linear e do narrativo, casos de Histoire(s) du Cinema (1998), Film Socialisme (2010) e Adieu ao Langage (2014), filmes que nos remetem aos conceitos Deleuzianos de imagem-tempo, imagem-movimento e imagem-fluxo. Imagem e Palavra é um filme caleidoscópico, arqueológico, frenético, provocativo, seletivo, de erudição cinematográfica e filosófica, para deleite e/ou fastio.
Cinema de um autor que ultrapassa com sua arte e sua linguagem o padrão usual de fazer cinema, no seu modo clássico. Uma reflexão estética e política de Godard sobre a imagem, sua polissemia, através de um jogo de apropriação, desconstrução e reconfiguração das imagens.
"Para Godard, virtualidade hermenêutica não está no conteúdo das imagens, mas na autodestruição delas, que resulta na valorização dos interstícios, um espaçamento que faz com que cada imagem se arranque ao vazio e volte a cair nele" (Deleuze, em Imagem-Tempo).

Comentários

  1. Na minha sessão também 8 pessoas. Mais uma preciosidade de um dos maiores. Imagem-tempo, palavra-tempo. Obrigado pelo(s) texto(s). Abs

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