The Post A Guerra Secreta


CINEMA E IMPRENSA

The Post - A Guerra Secreta, de Steven Spielberg, filme  candidato ao Oscar 2018, é mais uma produção norte americana sobre atos de bravura de um jornal e seus jornalistas em defesa da liberdade de imprensa.
Outras histórias, envolvendo imprensa x poder, registraram momentos em que a ética jornalística, a investigação e o compromisso com a verdade, foram protagonistas na luta por valores democráticos nas terras do Tio Sam. Os Homens do Presidente (Watergate), O Informante (indústria do tabaco), Boa Noite Boa Sorte (Macartismo) Spotlight (pedofilia na igreja), Conspiração e Poder (falsetas de Bush), são títulos sobre o jornalismo sendo posto à prova, entre recuar ou avançar, ceder ou enfrentar, sob forte pressão do poder político ou econômico, na aventura e missão de revelar a verdade.
The Post, referência ao jornal The Washington Post, é thriller encenado em salas de redação, ante-salas do poder, festas e tribunais, com o devido recorte politico. Narra o escândalo do vazamento de documentos secretos sobre a guerra do Vietname, em 1971, guardados nos cofres do secretário de Defesa Robert McNamara, que mostraram a farsa do governo Nixon em mentir à população sobre a realidade do conflito na Indochina. Enquanto imprensa e sociedade eram enganados sobre o sucesso e iminente vitória dos EUA na escalada bélica no sul da Ásia, os documentos secretos, 47 volumes dos chamados "papéis do Pentágono", mostravam o contrário, que há anos os sucessivos governos tinham conhecimento dos reveses sofridos no campo de batalha e da derrota final que se aproximava. Desde Eisenhower, Kennedy, Johnson e agora Nixon, já se sabia entre os muros da Casa Branca, que os milhares de jovens enviados ao front foram perder suas vidas num confronto sem chances de vitória. Nesse caso, como em outros, coube a um agente de governo a ousadia da entrega dos documentos secretos à imprensa. Antes de Snowden, Wikileaks e Mark Felt/Deep Throat, o ex- funcionário da Defesa, Daniel Ellsberg, fez o vazamento, fazendo história. Primeiro o New York Times, depois The Washington Post, em seguida vários outros jornais, fizeram seu papel: Desvendar e publicar a mentira secreta, estampando nas primeiras páginas e em séries de reportagens como os governos enganavam há anos o povo americano.
No filme, acompanhamos The Post em sua fundamental e dramática participação no episódio, onde seu editor chefe Ben Bradlee é vivido por Tom Hanks, e a dona do jornal, Katharine Graham, interpretada por Meryl Streep, em atuações brilhantes, os personagens da vida real e os atores na sua representação. O jornal apostava também na oportunidade de transformar em nacional um diário local, pelo impacto que teriam as publicações. Um roteiro exemplar, em que não faltam emoção, suspense, conflitos, heroísmo, turning points, e também lições de independência e destemor de um jornalismo com a coragem de informar sobre as artimanhas e hipocrisias de um governo que engana, falseia  e manipula.
Um ano depois, o mesmo The Washington Post, e seus repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, começariam a publicar as denúncias do caso Watergate que iriam soterrar Nixon em 1974, retratado no antológico filme de Alan J. Pakula. 
O público americano tem mais uma vez, em The Post, motivos para aplaudir tanto um segmento importante de sua imprensa quanto a suprema corte de seu país. E ainda pode ler no filme de Spielberg um recado crítico sobre a era Trump, que vem impondo severas restrições à liberdade de opinião. Diferente de certo país, onde muitos jornalistas e juízes, se forem ao cinema devem, ao acender das luzes, de lá sair envergonhados, ou até irritados, com tanta ética e tanta verdade. Cinema e imprensa, dessa relação tem surgido não somente boas histórias e bons filmes como também oportunidades para se refletir sobre a função e a responsabilidade do jornalismo. Para se pensar as conexões entre mídia e poder, seus efeitos, no grande jogo de interesses em disputa na produção da informação.


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